Heróis de Gelo e Fogo

Por Valéria Cardoso

Sucesso mundial, recordista de Emmy's e aclamada pela crítica e pelo público, Game of Thrones é um fenômeno desde o início. Em seu universo de fantasia criado pelo autor George R. R. Martin, num período medieval, com tramas e personagens complexos e intrigantes, a obra que foi adaptada dos livros para a série de TV arrasta multidões de fãs que criam teorias e vibram com a exibição de cada temporada, veiculadas pelos canais HBO. Analisando o enredo e trajetória dos personagens Jon Snow, Daenerys Targaryen e Arya Stark, pode-se perceber uma linha de similaridades entre eles, traços que podemos atribuir aos heróis.

No caso de Daenerys Targaryen, a Primeira de Seu Nome, Nascida da Tormenta, etc, nem todos os títulos poderiam restituir o trono de ferro à ela como sucessora legítima de sua casa. Dany teve de se tornar uma líder, uma verdadeira rainha, cujo poder vinha mais de dentro que de fora. Assim como seus dragões, ela vestiu uma couraça impenetrável, buscando um Reino mais justo para o seu povo. Dany inspirou milhares de pessoas no mundo de GoT e fora dele, através da sua figura imponente, empoderada e matriarcal. E quantas iguais a ela nós conhecemos? Mulheres que são verdadeiras sobreviventes, que levantam todos os dias para mudar o mundo, ou simplesmente os seus. Que acreditam ser possível “quebrar a roda”. Elas também possuem muitos nomes e algo em comum... Não desistem nunca.

Jon Snow era apenas um bastardo, filho de um homem poderoso. Seu dever está em ser o escudo que protege o Reino dos homens desde que se tornou um irmão juramentado da Guarda da Noite. Em seu desenvolvimento como pessoa e na história, Jon cresce cada vez mais e acaba liderando o povo do Norte. As pessoas o seguem por que veem nele algo diferente. Generosidade, benevolência, força e honra... Como todo soldado, muitas vezes ele tem que anular as suas vontades em prol do bem maior, mas nunca deixa de ponderar sobre as opções que lhes são apresentadas. Em nossa sociedade, tem ficado cada vez mais difícil escolher uma pessoa como modelo a ser seguido. Mas há para cada indivíduo pelo menos um Jon, e todos gostaríamos de ser mais parecidos com ele.

Já no que diz respeito à Arya Stark, filha do falecido Ned Stark, que ainda tão nova teve de aprender a sobreviver praticamente sozinha, podemos perceber um tipo diferente de heroína. Arya não arrasta consigo multidões, ela é uma loba solitária em busca de vingança. Ela se tornou uma assassina treinada pelos servos do Deus de Muitas Faces, mas não abandonou sua identidade, tão pouco seu objetivo inicial. Arya prossegue fazendo justiça em nome daqueles que ama e tem total apoio dos inúmeros fãs que torcem e aguardam ansiosos pela próxima vítima de sua Agulha. Essa personalidade forte e seus ímpetos isonômicos se assemelham aos protestantes, militantes de nossa época, que travam lutas individuais e/ou coletivas, “matando” aos poucos os estigmas e preconceitos que ameaçam aquilo que defendem.

Seja pelo trono, pelo dever e honra, ou por vingança, os personagens supracitados dessa obra histórica são considerados heróis por seus apreciadores, pois, dentro e fora das telas, representam uma imagem que conquista o respeito das pessoas. Sua interdimensionalidade pode ser apreciada em diversas esferas sociais, bem como as características individuais dos personagens podem ser visualizadas em indivíduos do nosso convívio. Eles expressam o desejo que também possuímos por líderes e representantes que realmente se importam com o povo, por uma nação mais justa, por segurança em nossas casas e paz às nossas famílias.

Por que são sempre os inocentes a sofrer mais, quando vocês, os grandes senhores, jogam o seu jogo dos tronos (As crônicas de gelo e fogo, Livro um, p. 454).

Por fim, deixo aqui registrada a minha admiração pelo trabalho de George R. R. Martin e a minha torcida, pelas Dany’s, Jon’s e Arya’s da vida. Continuem lutando!