Você foi Selecionado(a)!

Por Valéria Cardoso

A Seleção (The Selection) é o primeiro livro da série de mesmo nome escrita pela autora estadunidense, Kiera Cass. Lançado em 24 de Abril de 2012 pela Editora Harper Collins, o livro foi muito vendido em seu país de origem e fora dele, sendo traduzido em mais de 32 línguas e alcançando o título de best-seller de sucesso. Em sua narrativa, traz como protagonista principal a jovem America Singer de dezessete anos que vive em Illéa - país antes conhecido como Estados Unidos, invadido na Terceira Guerra Mundial- e é uma cidadã da Casta de número Cinco.

As Castas servem para dividir os indivíduos de Illéa de acordo com suas posições sociais, sendo a Um destinada apenas à realeza e ao Clero, a Cinco, onde America se enquadra, aos artistas em geral, e estende-se até a Oito, para os deficientes e moradores de rua. Já A Seleção surgiu da ideia de unir o Príncipe Herdeiro com uma representante de outra Casta, seja ela uma Dois, Três, Quatro ou Cinco, de forma a passar uma falsa sensação de igualdade. America acaba sendo uma das trinta e cinco selecionadas, mas não desejava aquilo e se vê num impasse onde têm que escolher entre os seus próprios sentimentos e a necessidade de sobrevivência da sua família, que assim como tantas outras em Illéa, é extremamente pobre.

Para além disso, temos também a temática dos rebeldes retratados como marginais da sociedade. Pessoas que usam da força e violência para tentar derrubar a anarquia, bem como de forma a se fazerem ouvir e expressar o descontentamento com a desigualdade das Castas, da péssima qualidade de vida dos menos abastados, da negligência dos representantes para com a parcela do povo que não estava na elite, e do desejo por novas políticas públicas que realmente atendessem suas necessidades básicas. Porém, as ações desses movimentos também põe em risco a vida de pessoas desfavorecidas e isentas de culpa no processo, igualando-os ao nível de terroristas extremistas, disseminadores do caos na nação.

Em diversos momentos ao longo do livro, podemos perceber o quão forte é a personagem e é quase impossível não se devotar às suas causas. Ela é humanizada, profunda, real. Podemos rir de frases do tipo “Só estou aqui pela comida”, mas quando constatamos a gravidade do que America vive, e, igualmente a ela outras tantas que precisam abrir mão de sua liberdade, do seu vigor e de suas vidas em prol da garantia das refeições na mesa, nos sentimos desconfortáveis com a leitura. Também se pode perceber a forte empatia da personagem com pessoas da mesma classe, ou de classes inferiores a sua, mas não somente a elas, pois seu grau de julgamento avalia antes de tudo, o caráter. E o detalhe mais surpreendente de todos, você acaba por perceber que quase todos os personagens de Castas inferiores retratados na obra detêm a capacidade de compartilhar o pouquíssimo que têm com outros que possuem ainda menos.

Essa característica totalmente altruísta, de desprendimento e gentileza é muitas vezes encontrada entre pessoas residentes de comunidades periféricas, de regiões demograficamente pobres, mas também nas grandes metrópoles, que tendem a tornar invisíveis certas parcelas da população. Quantos são os Cinco, Seis, Sete e Oito da nossa realidade? O que faríamos para chegar ao menos no nível Três dessa pirâmide? Abriríamos mão de parte da nossa limitada liberdade, e da chance de construir o futuro que sempre sonhamos como fez America? Uma coisa é certa, a crueldade do sistema de Castas em Illéa é algo bem real para nós também e você pode escolher de que maneira se posicionar em relação a isso. No caso de America Singer, posso dizer que ela soube como jogar o jogo e usou sua voz para quebrar padrões, promovendo paz e melhorias para todos. Quebre padrões! Seja a voz que promove mudanças positivas.