Por Valéria Cardoso
Em 1992, era lançado o filme de animação Aladdin, produzido pela Walt Disney Feature Animation, com direção de Ron Clements e John Musker. Sua história é baseada num conto árabe, intitulado “Aladim e As Mil e Uma Noites” e retrata a história de um jovem garoto muito pobre, sem teto, roupa ou comida, que inúmeras vezes recorria aos furtos para sobreviver nas solitárias ruas de Agrabah. Apesar de lançar mão de sua dignidade para roubar “um pãozinho” aqui e ali, Aladdin possuía um coração nobre, ele era um verdadeiro diamante bruto. Não que isso fizesse diferença, afinal, ele ainda era da ralé...
Em 2018, Salvador, Bahia, um garoto que não é sem teto e tão pouco ladrão como Aladdin, foi abordado por um segurança em um determinado Shopping da cidade. O garoto tentava vender suas balas, atividade desempenhada por centenas, e por que não dizer milhares de crianças, que assim como ele, tentam ajudar de forma honesta na renda familiar. Sim, estava com fome, e ao contrário de ganhar alguns trocados por suas balas, o garoto recebeu a oferta de uma refeição que seria comprada pelo cliente que havia abordado. O grande impasse foi que o garoto não estava devidamente encaixado nos padrões do Shopping, por isso foi impedido de receber a refeição.
Assim como Aladdin, o menino pobre e morador da zona periférica de Salvador estava invisível aos olhos das pessoas, até o momento em que “fez algo de errado”. Exatamente como o personagem foi abordado pelas autoridades do reino por ter roubado comida, o garotinho que não roubou nada mais que atenção foi “encurralado” e exposto de forma vexatória e humilhante. Aladdin encontrou como válvula de escape o Gênio e sua lâmpada, o garoto, as câmeras e seus milhares de expectadores. A invisibilidade foi retirada por alguns instantes para que a sociedade, embora seja a do espetáculo, pudesse ver que ali estava uma criança digna de todo cuidado.
As mazelas e desigualdades, as divisões de classes e a perversidade do sistema tornam histórias como a de Aladdin e a do garotinho soteropolitano apenas números estatísticos. Eles estão em toda parte, à margem, e só são percebidos quando esbarram ou pisam no calo de alguém. Por conta da repercussão do vídeo feito durante o ocorrido, o garoto teve alguns desejos realizados pelos “Gênios da lâmpada mágica”, mas os minutos de fama se vão, e aí o garotinho estará por sua própria conta outra vez, como Aladdin ficou quando perdeu seu bem-feitor. Infelizmente ou felizmente, a vida imita a arte. Esperamos que o mundo ideal da história seja construído e conquistado também pelo jovem baleiro que sonha em ser jogador de futebol.
Aladdin e o Gênio da Lâmpada Mágica
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junho 29, 2018
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