Miss Hammurabi




Por Valéria Cardoso

A Coreia do Sul é um dos países que vem passando por uma fase de remodelagem, principalmente no que diz respeito à igualdade (ou a desigualdade) em seu solo. Num cenário de inúmeras manifestações e denúncias, muitas delas relacionadas a casos de assédio ou abuso sexual envolvendo pessoas famosas, o movimento #MeToo tem surtido um grande efeito na sociedade coreana. Desde o início do ano, após uma denúncia feita em rede nacional pela promotora pública, Seo Ji Hyun, expondo o assédio que havia sofrido do oficial do Ministério da Justiça, Ahn Tae Geun, uma onda de protestos e depoimentos contados por outras mulheres se intensificou nas redes sociais.  O que só eleva o grau de importância que uma obra como Miss Hammurabi tem.

Esse K-Drama (Drama Coreano ou simplesmente Dorama) foi lançado recentemente pela emissora de TV JTBC e retrata a complexidade do sistema judiciário através da perspectiva da recém-empossada juíza Park Cha Oh Reum (Go Ah Ra), do também novato juiz Im Ba Reun (Kim Myung Soo) e do experiente juiz principal, Han Se Sang (Sung Dong II). Para ater-se fielmente ao Código Penal Coreano e dar vida aos conflitos internos enfrentados pelos personagens, o roteiro foi escrito com a ajuda do juiz do Tribunal do Distrito Central de Seul, Moon Yoo Seok.


O Código Hammurabi é a legislação mais antiga que se tem conhecimento, daí o nome da obra. E não poderia ser melhor, dada à personalidade da protagonista, nossa Miss Hammurabi, e seu incrível senso de justiça. Já nos primeiros minutos da série a Juíza Park dá uma bela lição em um senhor que estava assediando uma garota no metrô e, claramente, a garota se mostra incomodada, mas não tem coragem de se defender. Mais tarde, em uma conversa sobre o ocorrido, seu colega de profissão diz algo como “a culpa foi dela por estar usando uma saia tão curta”, e é claro que a feminista Park Cha Oh Reum não deixaria um julgamento como este passar despercebido.

Episódio após episódio, o trio de juízes lida com um caso diferente e cada um deles traz à tona uma crítica à sociedade coreana e aos problemas que precisam ser abordados. Assédio ou abuso sexual, abuso de autoridade dentro e fora do trabalho, desigualdade de gênero e de classes, corrupção, entre outros, ainda são coisas corriqueiras por lá. Segundo o relatório da Human Development Reports de 2017, de 144 países a Coreia do Sul se encontra na 118° posição no quesito igualdade de gênero, enquanto o Brasil está na 90°. Então se você acha a sociedade brasileira patriarcal e machista, saiba que existem países de “primeiro mundo” bem piores.

Cada posicionamento da Juíza Park é um tapa na cara da sociedade e do sistema. Ela nos faz refletir em até que ponto a justiça é feita realmente e fomenta debates que não podem mais ser ignorados. A Coreia do Sul finalmente começou a produzir conteúdo de massa com temas como esses, mostrando um reflexo do que vem acontecendo, como o #MeToo, por exemplo. O que normalmente se vê entre a modalidade são papéis que reforçam estereótipos e pensamentos discriminatórios, portanto, damos as boas-vindas à Juíza Park e às muitas outras personagens inspiradoras que virão para o mundo dos Doramas! 
Miss Hammurabi Miss Hammurabi Reviewed by Its Lins on agosto 05, 2018 Rating: 5

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